ENTREVISTA: MARRECO CONTA UM POUCO DA HISTÓRIA DA BOATE MAIS ANTIGA DO BRASIL, PUB MAJOR LOCK!

12/04/2021

Para quem não sabe, temos do nosso lado a boate mais antiga do Brasil em funcionamento, o Pub Major Lock. E para este espaço conseguir este título, em meio a 8.516.000 km² (área total do Brasil), com certeza ele tem um histórico lindo, e claro, com bastante desafios.

Nesta matéria, o Portal B2B conversou um pouco com um dos idealizadores deste projeto, o famoso Marreco. Ele nos contou um pouco mais sobre a história desta icônica boate belorizontina, e como eles conseguem se manter na ativa por tantos anos – desde 1992.

Além disto, Marreco conta um pouco mais para gente sobre sua trajetória dentro e fora da casa. O que faz ele ser quem é nos dias de hoje.

Confira agora a entrevista do Marreco ao Portal B2B!

Cabine do DJ no andar de baixo do Major

ENTREVISTA: MARRECO

Portal B2B: Como foi o processo de criação do Pub Major Lock? Como era o conceito de boate na época para Belo Horizonte?

Marreco: “O Major Lock foi criado em 1992 pelo Rodrigo Bouchardet, meu sócio aqui no Major. Ele e seus amigos faziam algumas festas nas Braúnas (inclusive a Banda do Samuel Rosa, que depois virou Skank, tocava por lá), viram que estavam dando muito certo, sempre dando sold out. Então o Boucha quis montar um espaço com os amigos e pegou a casa do Major na época, que só tinha o andar de cima. 

Nele, os próprio clientes serviam o chop e deixavam o dinheiro no balcão. Uma vez o Boucha foi para os Estados Unidos e voltou cheio de ideias, lançou o “Major tirinho”, que é um shot no tubo de ensaio. Criou o jogo do dado e aí a “Segunda do Dadinho” bombou, que na época quem tocava era o Jotaquest. 

Então o Major Lock foi uma criação de um produtor de eventos, que depois de fazer muitos eventos sentiu a necessidade de criar o próprio espaço. Foi e tem sido sucesso.“

Marreco ao lado de seus sócios, Rodrigo Bouchardet e Ramiro

Portal B2B: Major é um Pub voltado para o Rock, por que a escolha desse gênero musical?

Marreco: “Na verdade o Major não foi criado para ser uma balada de Rock n’ Roll,  não somos uma balada de um gênero só. A gente gosta de ser bem democrático, gostamos de tocar música boa, somos um pub, uma balada de música boa. Quando o Major foi criado ele não era um Pub de Pop Rock, gênero muito famoso na época. Era um pub de bandas locais, então sim, existia muito Rock n’ Roll e muito Pop Rock, mas nunca a gente se definiu como uma balada de Rock n’ Roll. 

Como Belo Horizonte foi muito conhecido por ter muitas bandas de Pop Rock, acabou que a gente levantou muito essa bandeira, mas foi por um cenário, uma cena de BH que estava consolidada na época da criação do Major. Com Jotaquest, com Skank, na sequência veio o Tia Nastácia, Pato Fu, depois Manitu, Terral, Lagum, Daparte, enfim… sempre levantamos a bandeira de bandas locais.

Portal B2B: A decoração do Major é única! Como foi esse processo de criação? Em qual momento o “Kombão” começou a integrar o segundo ambiente?

Marreco: “Então, é engraçado isso porque a decoração do Major nunca foi pensada. Quando o Major foi criado lá em 92, o Boucha não virou e falou “eu vou ter uma bandeira aqui, um quadro ali e tal”. Não, o Major foi ganhando presentes! Então esta prateleira aqui o Boucha uma vez foi para a Tailândia e voltou de lá com umas garrafinhas e umas notas. Aí um amigo dele queria desovar umas fitas cassetes e jogar no lixo e o Boucha pegou e botou na prateleira. Aí outro amigo tinha um rádio velho, veio aqui e deixou o rádio. Outro amigo queria pagar conta, não tinha dinheiro, foi lá e deixou um violino. 

Fomos ganhando presentes, quadros os amigos nossos artistas presenteiam, bandeiras, pessoas de outros países. BH recebe, mesmo que muitas pessoas não acreditem, intercambistas que dão essas bandeiras aqui para o Major assinadas. Então o Major foi criando estes espaços.

E a Kombi, o segundo andar do Major não existia. Era um jardim com um porão. Aí uma vez eles fizeram uma festa de quebradeira do Major, em que cada pessoa pegava uma marreta e quebrava o andar de baixo. Depois de muito sucesso do andar de baixo uma vez o Ramiro estava passando na frente de um ferro velho, viu uma Kombi, comprou e falou “agora o DJ vai pilotar a Kombi”. Foi uma coisa muito natural! Os processos criativos do Major se juntam de uma forma muito espontânea e orgânica. A gente não planeja muita coisa, a gente sente, faz e acontece. É uma casa que tem muito vida própria, sabe?!“

Créditos: Instagram @majorlockpub
Créditos: Instagram @majorlockpub

Portal B2B: Como foi o processo para você chegar na direção do Major?

Marreco: “Eu tenho quase a idade do Major (Major tem 29 anos e eu tenho 31). Entrei no Major quando eu era bem novo, na minha adolescência, quando as festas raves chegaram à Belo Horizonte. E eu era muito fanático com rave, era menor de idade e dava meu jeito para entrar. E o Major na época tinha uma festa chamada Major Tronic que era toda quinta. Uma festa super de música eletrônica e eu conseguia ir ali. E nisso eu comecei a brincar com os equipamentos, comprei alguns, comecei a quebrar a cabeça com o Virtual DJ que é um negócio que todo mundo já baixou no computador alguma vez. Enfim, comecei a gostar muito de música, e principalmente de música eletrônica.

E surfando nessas ondas das raves eu virei DJ de Full On, que era o estilo de música eletrônica da época. Nisto, eu vinha toda quinta no Major Tronic pedindo para tocar para o cara que fazia a festa, que no caso era o DJ Pin. Ele uma vez me convidou para tocar no Major depois de muita insistência minha e dito e feito, toquei e foi uma merda. Ele me deu uma segunda chance, toquei, foi bem melhor e eu sempre trazia muita gente comigo. Nisto virei residente nas quintas-feiras e foi aí que conheci o Ramiro, que hoje é meu sócio. Ele me convidou para virar promoter na sexta-feira e aí eu montei uma festa própria, já não sendo só DJ, era DJ e promoter. A “Noite do Sino” foi durante 5 anos a maior sexta-feira de Belo Horizonte, toda edição a fila dava volta no quarteirão e a gente colocava no giro 600 pessoas, a casa ficava lotaaada. 

Com isso fiquei no Major muito tempo como promoter, depois virei uma espécie de gerente, que é o cara que ajuda todos os dias, que contribui para montagem das festas, até que eu recebi o convite para virar sócio da casa. Então foi muito tempo defendendo e vestindo a camisa da casa.

Paralelamente a este trabalho fiz outras festas em outros lugares. Tive a Pimp My House, que foi uma festa de Hip Hop. Trabalhei na NaSala, chegou uma época que tinha um emprego no time de marketing de lá. Isso tudo foi me dando bagagem, que foram aprendizados para que eu conseguisse chegar na sociedade do Major preparado para assumir este posto.

Portal B2B: Com quase 30 anos funcionando, quais as maiores dificuldades já enfrentadas pelo Major? Quais as pretensões para o futuro?

Marreco: “A maior dificuldade que o Major já enfrentou na vida está sendo esta pandemia. Já tem 7 anos que estou à frente na casa e com certeza é o maior desafio que a gente já enfrentou. Claro que existem inúmeros desafios, o mercado mexe demais, é tipo um jogo de tabuleiro, está todo mundo ali querendo dar um checkmate. E o Major está sempre atento a estas mudanças do mercado e sempre se reposicionando, por isso que a gente fala que é uma casa que tem vida própria, muito camaleão, vai se adaptando com o tempo e com o público.

Portal B2B: Com a casa sempre lotada, você já cogitou expandir o espaço? (Mudar de local ou outro investimento)

Marreco: “Já cogitamos muito expandir o Major! O Major tem outros braços que com a pandemia deu uma esfriada, temos uma produtora de eventos externos, que diminuiu muito, mas que pretendemos retomar. Ele tem a marca de roupas, que foi um sucesso, vendemos quase 1000 bonés e 500 camisetas, que também demos uma parada. E eu, Marreco, já fui sócio do Entre-Folhas, não sou mais, mas já tive essa participação. Mas claro que a gente sempre pensa em expandir, abrir um Major em outros lugares (Major já abriu itinerantemente em outros lugares, já fizemos festa em Arraial D’ajuda, por exemplo)! Enfim, temos isso no radar, mas hoje em meio à pandemia não é uma coisa que está nos planos. Mas já esteve e provavelmente pós pandemia vai estar.“

Portal B2B: Na sua opinião, quais as apresentações mais marcantes no Major? 

Marreco: “As apresentações mais marcantes do Major para mim foram Mc Fox, Ventania, Supla, Marcelo D2, Playing for Change, Ftampa, KVSH, Cat Dealers, Jotaquest, Skank, Lagum, Rael da Rima, Tássia Reis, Shwayze, Cone Crew… Todos estes foram apresentações incríveis, mágicas aqui na casa.”

Supla se apresentando no Major Lock
Ftampa ao lado de The Fish House no Major

Portal B2B: Como é a experiência de já ter sido DJ e hoje em dia ter a função de assessorar a carreira artística de outros DJS?

Marreco: “Eu já fui DJ, mas por um tempo muito curto da minha vida e nunca fui produtor musical. Eu era muito menino e considero que a minha carreira como DJ quase não existiu e estar ali assessorando um artista e cuidando do backstage, vamos dizer assim, é uma coisa muito diferente. Para mim tem sido um desafio muito novo, eu tenho aprendido muito todo dia, todo mês e todo ano. Eu vejo que eu absolutamente não sei da nada e tenho que estar estudando, aprimorando, perguntando e graças a Deus existem várias pessoas no mercado que me ajudam bastante nisso. Mas tem sido muito legal, ver que a gente tem feito coisas com artistas que eu sou muito fã, legal ver os resultado em aumento de shows, plays, músicas com muito sucesso, conhecimento, aumento da fanbase. 

Eu consegui ajudar algumas bandas durante a carreira delas, nunca foi mais profissional, mas porque eu queria ajudar mesmo. Agora de fato eu estou profissionalizando esta história. No meu trabalho com o The Fish House antes da pandemia a gente estava lotado de apresentações, músicas com muito sucesso e claro, veio a pandemia aí como um balde de fria. Agora estou com os meninos do Dankless também, que a gente ainda não conseguiu startar o trabalho, porque eu entrei no projeto deles no meio da pandemia, mas tem sido algo muito legal, muito novo e desafiador. Tenho certeza que isso tudo vai valer a pena!“ 

Marreco na produção do The Fish House
Marreco no backstage de uma apresentação do The Fish House

Portal B2B: É verdade que você é também advogado? Quais os motivos que te fizeram focar na área do entretenimento?

Marreco: “Sou advogado. Quando eu era DJ e virei promoter, como todo mundo já passou por isso, meus pais ficavam em casa assim: “você vai viver pedindo esmola, vai beber todo dia, só vai ficar na farra, isso não é vida para ninguém”. Minha mãe falava isso comigo o dia inteiro, como toda mãe de quem mexe com evento fala isto. E aí, de certa forma eu tinha que dar uma satisfação para os meus pais, porque naquela época eu era adolescente ainda, morava debaixo da casa deles, então eram eles que bancavam toda a minha vida ali.

Eu entrei na Faculdade de Direito com 17 anos, na FUMEC, e comecei a trabalhar com os dois. Era promoter do Major nas sextas, fazia uma Pimp My House por mês e estudava Direito, enfim, eu consegui conciliar ambos. Quando eu formei na faculdade em 2012 eu tive que escolher entre o Direito e o entretenimento. Sentei com a minha mãe na época e falei: “é o seguinte, formei, eu não tenho carreira nenhuma como advogado, vou começar do zero, ganhando salário muito baixo, trabalhar muito para ganhar pouco”. Já nos eventos eu já tinha uma remuneração boa, já estava ganhando bem, já estava conquistando o mercado, todo mundo me conhecia. Falei isso com ela, que era melhor apostar todas as minhas fichas no entretenimento e se desse errado eu começaria do zero a advocacia, era melhor do que entrar na advocacia e depois correr atrás do que deixei passar nos eventos. E foi assim que tomei a decisão e nunca me arrependo disso! Formei em Direito e também não me arrependo de ter formado, inclusive eu dou uma palestra muito sobre isso, sobre o que aprendi no Direito e que exerço na minha carreira empreendedora, de produtor cultural e de eventos hoje em dia. 

O Direito me ensinou muito e não foi só leis e essas coisas, me ensinou sobre liderança, comunicação assertiva, resolução de problemas complexos… Eu tive ali alguns skills meus que foram desenvolvidos durante a minha faculdade de Direito. Lembrando que eu fiz estágio na Justiça Federal, fui mediador no PROCON, isso me ajudou muuuito na minha comunicação.”

Portal B2B: Por fim, nós do Portal B2B, assim como diversos amantes da música eletrônica, temos acompanhado o BRMC, sua contribuição no mundo da música e eventos e queremos parabenizá-los por este feito. Qual são os planos para as próximas edições?

Marreco: “O Brazil Music Conference é uma paixão, é uma coisa que igual eu falo com todo mundo que está começando “mira um passo para você alcançar, quando você alcançar este passo mira outro, é um degrau por vez”. Quando eu comecei e tinha sei lá, uns 15 anos, o meu sonho era ser DJ de música eletrônica, virei e pude dar o check ali, pois alcancei o primeiro sonho. E dentro da música eletrônica conheci na época o Rio Music Conference e eu lembro que coloquei na minha cabeça que meu sonho era um dia estar sentado no RMC palestrando. Só que esta era uma meta muito grande naquele momento, então eu criei ali vários degraus que eu teria que cumprir as metas para que de fato eu alcançasse o RMC. Eu fui cumprindo aquilo ali até que um dia consequentemente recebi o convite de palestrar em São Paulo no que já era o BRMC (tinha deixado de ser RMC e virou BRMC). E foi aí que olhei lá para trás e vi que tinha alcançado mais um plano e meta.

As pessoas às vezes querem do dia para a noite ficarem ricas e milionárias, estarem no meio dos famosos e etc. Mas na verdade você tem que ter pequenas conquistas para primeiro, usufruir delas e comemorar. E segundo, que você só vai alcançar uma grande conquista se você passar por várias pequenas conquistas antes.

O Brazil Music Conference a gente terminou o ano com sucesso, que foi a conferência online. Claro que não é a mesma coisa que a presencial, em que a gente encontra, tem aquele calor de reencontrar os artistas, os amigos produtores do Brasil, tem festa, tem after, é o quente, é aquela coisa que realmente vale a pena. O BRMC vai ter continuidade e vamos soltar algumas novidades até metade do ano. É provável que venha o Hub do BRMC, que venha o curso online e é provável que a gente volte com as lives e as conferências que se Deus quiser este ano será presencial.

Marreco finaliza: Então é isso galera, obrigado à B2B e sucesso pelo trampo! Contem comigo sempre e em breve vamos poder comemorar isto tudo.”

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